domingo, 11 de dezembro de 2011

Salinger

Interessante como os livros nos influenciam e nos marcam. Curioso também que o livro que encanta uns desencanta e chateia outros tantos. Assim foi com "O apanhador no campo de centeio" de J. D. Salinger. Escrito em 1951 o livro conquistou corações, mentes e também críticas contundentes. Diziam que era chato, que se você quisesse ficar deprimido era só começar a ler.


O livro foi muito importante pra mim. Antes era só um cara meio deprimido. Depois meus momentos de depressão aumentaram mas ao mesmo tempo fui ficando também mais entusiasmado em vários momentos da vida. Sei dessa coisa do bipolar e tal, mas é melhor ser bipolar que depressivo o tempo todo não é mesmo?

Salinger despertou também simpatia pelo fato de ao perceber o que o livro lhe traria decidiu se isolar no interior dos EUA e rejeitar os louros da fama fiel ao estilo Holden Caulfield. Minha rebeldia e aversão aos hipócritas deriva desse livro. Salinger foi um gênio. Problemático, meio louco mas um gênio. Alguns parentes criticavam ferozmente sua personalidade e sua conduta. Familiar não? Um ex-namorada fez recentemente um leilão de cartas que recebeu dele. Você pode fazer o que quiser com cartas íntimas, rasgar, queimar e tal. Menos leiloar. Assim eu penso.

Mas Salinger não mais se importa com isso. Nem eu. Me importa o autor que só queria ser na vida o apanhador no campo de centeio onde as crianças brincavam perto do abismo. Só isso e nada mais. Claro que algumas mentes viram no livro um chamado messiânico como o assassino de Lennon o que indica a complexidade da cabeça animal do ser humano.

Senti a morte de Salinger como a de um amigo querido que sempre te dava uns toques sobre as coisas da vida. Fica em mim o sentimento de ter lido uma das coisas mais tocantes já publicadas. Tão tocante como a lágrima da menina que caiu na casa preta do tabuleiro de damas.

Espero ter entendido o significado do arranjo recíproco da vida que ele falou nesse belo trecho do livro:

"
Na hora em que você conseguir deixar para trás todos os Professores Vinsons, você vai começar a se aproximar cada vez mais – isto é, se você quiser, e se procurar, e se tiver paciência de esperar – da espécie de conhecimento que será muito, muito importante para você. Entre outras coisas, você vai descobrir que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada, e até enojada, pelo comportamento humano. Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno, e se sentirá estimulado e entusiasmado quando souber disso. Muitos homens, muitos mesmo, enfrentaram os mesmos problemas morais e espirituais que você está enfrentando agora. Felizmente, alguns deles guardaram um registro de seus problemas. Você aprenderá com eles, se quiser. Da mesma forma que, algum dia, se você tiver alguma coisa a oferecer, alguém irá aprender alguma coisa de você. É um belo arranjo recíproco. E não é instrução. É história. É poesia.”


Wilson C. Junior







3 comentários:

  1. Legal wilsão... mas vc acha mesmo que esconder as cartas de amor, que são íntimas é claro, de um grande poeta é ser infiel a ele?

    Eu acho que, por mais pessoal que seja, as cartas de amor de um poeta também são obras de arte, e não vejo nada de errado expor isso...

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    1. Expor é uma coisa. Vender, fazer dinheiro com elas é outra. Ainda mais motivada por rancor, mágoa e ressentimento.

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  2. Estou voltado ao blog somente com o pretexto de reativá-lo. Vamos postar alguma coisa? Beijos nos corações de cada um.

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